sexta-feira, 11 de abril de 2008

REC

Estamos a meio da noite. A jornalista Angela Vidal e o seu cameraman Pablo fazem mais uma reportagem para o seu programa “Enquanto dormem”, um espaço televisivo dedicado a mostrar ao público a vida nocturna de uma cidade, especialmente através dos olhos daqueles que trabalham enquanto a maioria dorme. No programa dessa noite, Angela e Pablo acompanham o turno nocturno num quartel de bombeiros. Subitamente, por entre entrevistas e outras curiosidades, o alarme toca. Alguém precisa de ajuda. Num edifício no centro da cidade, ouvem-se gritos e uma senhora parece incapaz de abandonar o seu apartamento. E assim, aquilo que parece um salvamento banal e fácil torna-se numa luta pela sobrevivência com um inimigo destemido e impossível de combater. Depois de fechadas as portas a mais elementar das batalhas começa… viver a todo o custo.

À primeira vista REC faz lembrar um pouco O Projecto Blair Witch ou até o mais recente Cloverfield, aplicando a técnica “câmara ao ombro”. Só se vê aquilo que na circunstância a câmara consegue captar e nem um fragmento mais. A câmara conta uma história que nem sempre nos oferece uma conclusão explicativa. E se alguém parar de filmar? Ficamos sem saber o que se passa… Como tal, REC não apresenta uma premissa original nem uma forma única de a mostrar, simplesmente condensa uma série de elementos de terror que até à altura nunca tinham aparecido juntos sobre a mesma batuta. O desconhecido. O escuro. A claustrofobia. O sangue. A dor. O medo da pessoa ao nosso lado… REC oferece tudo isto em doses muito bem estudadas, habilmente entrelaçadas com alguma comédia que propositadamente nos deixa desprotegidos para o susto seguinte.

Realizado pela dupla espanhola Jaume Balagueró e Paço Plaza, REC tem surpreendido e agradado em todos os festivais por onde tem passado. Em Portugal, arrecadou o prémio de melhor filme no festival Fantasporto, o que revela mais uma vez não só a excelência na escolha dos filmes por parte dos organizadores do festival, como permite assim a um filme que poderia ser completamente ignorado no nosso país, ter a estreia que merece. Nos Estados Unidos está a ser já preparado o inevitável remake sobre o nome Quarantine, o que para quem viu o filme, mostra logo o pequeno desastre que se seguirá. Certamente o “irmão” americano atrairá mais audiência e fará mais dinheiro, mas será certamente muito inferior.

Os saltos na cadeira estão mais do que garantidos, e se a premissa e o selo de qualidade do Fantasporto não forem suficientes para vos levar a entrar na sala de cinema, deixo só uma última nota. Este filme tem aquela que é talvez uma das mais assustadoras sequências finais de sempre. Tenha medo… tenha muito medo lol :D